Por. Rafaella Rizzo
compartilheisso@outlook.com
Ao fim dos programas ela mostrava a criança que era. A criança que se sentia triste, perdida, machucada física e emocionalmente. “Uma vez eu chorei com o pênis do cliente na mão, disse que não queria fazer aquilo. Tive essa resposta: ‘Como você não quer sua vagabunda? Você sempre faz isso, você é minha putinha e se não fizer eu estouro seu pai de bala’.
Eu tinha pouco entendimento do que significava essa vida. Eu sabia que muitas coisas ali não eram certas, nem normais, mas o que eu podia fazer? Quando você entra nessa você só sai se for pra ser presa ou morta. Vi várias amigas morrerem por terem recusado fazer programas. Os caras se consideravam nossos donos. Eles diziam ‘Se você não for eu mato seu pai, mato você’. Mesmo quando eu era pequena, antes do programa, eles tiravam a arma e deixavam bem a vista. Isso era um recado ‘Se você não fizer o que eu quero eu te mato agora’”.
Nesse momento Edileuza faz uma pausa. “Meu Deus me ajude”. Algumas lágrimas escorrem do seu rosto. Ela continua. “Com 13, 14 anos eu já estava totalmente presa nesse mundo, não tinha mais como sair mesmo. Todo mundo era meu dono. Políticos, fazendeiros, poderosos ou não, quem os chefes mandavam eu transar eu tinha que ir. Nessa quadrilha tinham muitos políticos envolvidos, até mesmo o padre da igreja do povoado sabia desse comércio, mas ninguém denunciava, todos tinham medo de serem mortos. Eu tentava me esconder, mas onde quer que eu fosse eles me achavam. Também não podia ter namorado. Meus relacionamentos duravam no máximo 15 dias. Se eles descobrissem que eu estava namorando um cara solteiro mandavam terminar, se não quisesse, morria eu e o garoto. Perdi vários bons casamentos por conta disso.”
Perdeu os dois primeiros posts?
Continua na próxima semana.