Anitta e o “complexo de vira-lata” do brasileiro

Anitta terminou ontem sua primeira turnê na Europa, após passar por Lisboa, Paris e Londres com shows lotados e muito destaque na mídia internacional. Após o seu show no Rock in Rio Lisboa no último domingo, 24, a diva chegou a garantir, de acordo com alguns veículos internacionais, que seu show foi melhor que o de estrelas há muito consagradas, como Demi Lovato e Bruno Mars – e isso, trouxe à tona o já famigerado “complexo de vira-lata” do brasileiro.

Criado pelo escritor Nelson Rodrigues, o termo “complexo de vira-lata” definiu a falta de autoestima dos brasileiros. A frase surgiu com a derrota da seleção brasileira na Copa de 1950.

Na cabeça do brasileiro, tudo que é “nosso” é inferior! “Anitta foi espetacular, mas comparar o show dela com o de alguém como o Bruno Mars é demais”, disse um internauta, num comentário do Instagram. “Nunca que Anitta será melhor que Demi ou Bruno Mars. Amo a Anitta, mas aí já é forçar a barra”, falou outra.

A pergunta é: por que Anitta não pode ser melhor que Bruno Mars ou Demi Lovato?

Há exatamente um ano, quando lançava ‘Paradinha’ logo na sequência do lançamento de ‘Switch’ com Iggy Azalea e pouco antes do sucesso ‘Sua Cara’, Anitta contou toda sua estratégia para se lançar, de fato, como uma artista internacional. E é de se invejar a inteligência, com a qual ela soube lidar com o tempo, ansiedade, pressão dos fãs e musicalidade.

“Eu precisava acostumar o meu público a ouvir músicas em outros idiomas e, principalmente, em me ouvirem cantando em outros idiomas. Foquei nas parcerias latinas, lancei ‘Sim ou Não’ metade em espanhol e metade em português, participei do Remix de ‘Ginza’ e agora estou aqui. É um trabalho de formiga, a gente leva folha por folha até construir tudo que a gente precisa”, contou num evento exclusivo na época.

A questão é que Anitta NUNCA deveria estar aonde chegou, se não fosse por sua garra e determinação. Afinal todas as estatísticas trabalharam a vida inteira contra ela: nascida na periferia, sem muitas oportunidades, cantora e expoente de um ritmo musical que é menosprezado, mulher e, pra variar, brasileira.

O que eu não consigo entender é: como o público que a apoiava incondicionalmente, virou a cabeça tão rápido? Há um ano, quando ‘Paradinha’ estreou, o público implorava por participações internacionais, shows maiores, viagens promocionais à outros países e vibravam a cada conquista. Hoje, esse mesmo público, não acredita e aceita que ela pode ter um show melhor do que o de qualquer outra estrela internacional.

A expressão “complexo de vira-lata” ganhou o mundo, perdura no tempo e, hoje, os brasileiros são vistos como seres menores em qualquer lugar do planeta. A manifestação do “complexo de vira-lata” é diariamente reforçada pelos próprios brasileiros, em comentários do tipo como o que vimos acima. E, quando há a oportunidade de mudar isso, como quando o ‘Good Morning Britain’, o matinal mais assistido do Reino Unido, chama Anitta de “Rainha do Brasil” os próprios brasileiros acham um absurdo.

Anitta é chamada de “Rainha do Brasil” e cai na gargalhada com apresentadores gringos na TV.

É sempre bom lembrar que na Europa, Bruno Mars e Demi Lovato são tão gringos quanto ela. Lá não há o juízo de valor sobre as questões do funk ser marginalizado, se nasceu em berço de ouro ou em Honório Gurgel, se canta rap, pop raiz ou proibidão. Se eles gostam do que vêem e ouvem, eles valorizam e isso deveria nos servir de exemplo: NÓS TAMBÉM TEMOS COISAS BOAS NO BRASIL. Também temos artistas que podem se sentar lado a lado numa premiação internacional. Temos Anitta pra mostrar que quando se quer, dá pra fazer.

Anitta, é hoje, sim, ao lado de Neymar, a brasileira que tem a maior relevância internacional do momento. Não precisa gostar, amar e rebolar a bunda ao som de sua música, mas apoiar, vibrar com suas conquistas e sonhar com ela. Isso não mata e não arranca pedaço.

Anitta é o exemplo de que tudo pode dar muito certo pra quem sonha, trabalha e tem a cara de pau pra fazer acontecer.

Vai Malandra!

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