
Um filme que vai do 0 ao 100; aplaudido em algumas sessões e vaiado em várias: o que esperar? Uma delicadeza, quase que intocável, ao contar, usando muitas metáforas, a história da humanidade.
O longa dirigido por Darren Aronofsky, que veio ao Brasil divulgar o longa, e protagonizado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem é perturbador. Há cenas em que a vontade do telespectador vai ser de sair correndo da sala de cinema. E não é por ser um filme de terror. Aliás, terror é o que menos tem.
Há uma riqueza de detalhes, metáforas e referências que, realmente, tira as pessoas da zona de conforto: pra entender o filme você tem que pensar.
Mas, vou dar algumas teorias minhas, explicadas pelo diretor, em entrevista exclusiva ao Compartilhe, para te guiar ao entendimento da história caso você já tenha assistido e saído do cinema com várias interrogações pairando na cabeça.
É um filme sobre a relação de Deus com o mundo
Sim! Há a Mãe!, quem dá vida ao lar. Quem constrói a casa. Quem cuida e zela pelo bem de seu marido. O poeta, que tem lapsos, e não consegue escrever uma nova história.
Logo no início, chega à casa um visitante inesperado. Ele é recebido pelo casal. Do nada, chega a mulher. Que, para uma hóspede, é bastante inconveniente. Ela provoca a esposa o tempo todo. A gente chega a pensar que rolará um triângulo amoroso.
Esse casal ao chegar, tira a ordem do lar. Quebram uma jóia, dada de presente, um coração de vidro, por alguém muito especial. Uma pedra angular. Com isso, quebra-se também a confiança
Logo chegam os dois filhos do casal que brigam pela herança do pai, que, nitidamente está debilitado e quase morrendo. Há uma luta e um dos irmãos acaba assassinando o outro.
Entendeu as referências? É a história de Adão e Eva, Caim e Abel. Quebrar o coração de vidro é o pecado entrando no mundo. A quebra da confiança, a insolência e o primeiro assassinato por ganância.
O dono da casa se oferece para receber o casal em luto e seus convidados e é ai que a coisa desanda de vez. A casa é totalmente invadida e bagunçada pelos visitantes. Até que uma caixa de água se estoura. Todos são expulsos e a tranquilidade volta a reinar. Referência dois: a destruição do mundo, com o dilúvio.
O poeta finalmente consegue começar a escrever sua história. As inspirações: sua mulher teria um filho e também a história do casal que perdeu os filhos e a angústia dos entes queridos.
Quando criança está prestes a nascer, o livro é publicado e atrai à casa inúmeros admiradores. Pessoas fanáticas pelo poeta. Que o obedecem cegamente. Que podemos interpretar como os fundamentalistas religiosos.
Nestas cenas acontecem de tudo: roubos, guerras, a destruição da casa. E em meio a tudo isso, desde o início, a mulher, a mãe, fica calada, sofrendo tudo, impotente, sem nada fazer, porque esse é um desejo do marido. Que a deixa de escanteio sem poder de decisão. Ela pede para que ele os expulse e a resposta é enfática: “Eu quero que eles estejam aqui”.
A criança nasce em meio ao caos, e no período de seu nascimento, há calmaria. O pai deseja apresentá-lo aos seus seguidores. A mãe luta para que isso não aconteça e num momento de distração o filho é levado e morto pela multidão que toma do seu sangue e come da tua carne. O pai, então diz para a mãe em choque e desesperada: “Nós podemos perdoá-los”. Esse trecho do filme faz referência ao nascimento e sacrifício de Jesus pela humanidade.
Mas mesmo assim, os seguidores de seu marido não se contentam e passam a destruir tudo que ainda restou da casa e, num ato desesperado, a mãe finalmente cria voz, se rebela, e acaba com tudo, numa grande explosão: o apocalipse.
O filme mostra a criação, Deus e sua relação com a Terra e o homem. Há frases como: “Eu sou o que sou”. Referência bíblica de uma resposta do Senhor para Moisés. A casa é a natureza que foi entregue ao homem e que diariamente é destruída, maltratada e totalmente desvalorizadaao longo dos tempos.
Darren fez uma obra de arte que conta com maestria o nosso passado, presente e o inevitável futuro. Um Oscar é pouco para premiar o que representa o longa. Assistam!